Caros amigos internautas.
No artigo deste mês vamos tocar em uma ferida necessária:
demissão. E é necessário desmistificarmos
esta palavra justamente para que deixe de ser uma ferida.
Muitas vezes uma pessoa foi demitida por procedimentos econômicos
da empresa e não técnicos, ou seja, há
um talento que pode e deve ser aproveitado.
Demissão não deve gerar tanto pesadelo. O ideal
é que nós gestores de pessoas transformemos
essa palavra a cada dia em momento de crescimento profissional
ao invés de puro sofrimento.
No nosso caso (Grupo LET) essa tarefa da demissão ou
dispensa fica menos difícil porque como trabalhamos
com mão-de-obra temporária e terceirização,
estamos sempre prestando serviço a alguém. Então
quando encaminhamos profissionais aos nossos clientes são
pessoas que ou nós selecionamos ou formamos aqui, dentro
de casa. Essa pessoa acaba criando um vínculo com a
LET e sabe que quando ela é contratada de forma “temporária”
trabalha seis meses e que se é bom profissional vamos
buscá-la de volta depois de outros três meses.
Da mesma forma, quando terceirizamos as pessoas sempre deixamos,
ao final do período do contrato, a oportunidade para
tentar alocá-la em outro projeto nosso. Por que? Porque
é uma mão-de-obra com a qual tivemos um relacionamento
muito grande, porque conhecemos a sua capacidade de trabalho
e com isso não gostamos de perder essa mão-de-obra.
Costumamos no Grupo LET fazer uma boa admissão e uma
boa demissão. Porque quando você faz uma admissão
transparente, ética e objetiva, o empregado sabe onde
vai trabalhar, quanto vai ganhar, quais são seus direitos,
etc. E no momento em que ele vai sair temos que agir da mesma
forma, com respeito e transparência. Afinal, mesmo saindo
ele leva consigo a bagagem da empresa, a imagem desta empresa,
é um portfólio vivo. Só para citar um
exemplo, o Grupo LET atende a uma empresa há cinco
anos na qual os profissionais saem e voltam o tempo todo,
para trabalhar em épocas do ano já determinadas.
E na época em que não estão trabalhando
conosco eu realoco essas pessoas em outras empresas.
Mesmo que trabalhem em outro formato, penso que as empresas
que contratam mão-de-obra efetiva devem ser transparentes
em seus processos de desligamento de funcionários.
É lógico que nem toda empresa tem a capacidade
gerencial para agir dessa forma. Porque hoje a gestão
não é só do RH. O RH é um mero
fator instrumental das áreas, auxiliando cada uma no
caminho para os melhores procedimentos.
Pessoas não bem treinadas ou gerenciadas acabam fazendo
demissões muito frias. Demissão é um
assunto delicado, que tem que ser tratado, cuidado, planejado.
Sempre bato palma para as empresas que, quando vão
aposentar certo grupo de executivos, já começam
a prepará-los cerca de três ou quatro anos antes
para esta aposentadoria. Porque é muito difícil
para um CEO ficar de repente em casa sem fazer nada. Ele vai
acabar fazendo bobagem se não for bem orientado. Posso
citar um case interessantíssimo: a VARIG. Lá
eles faziam um projeto de aposentadoria belíssimo com
antecedência de cinco anos, porque aposentadoria de
aeronauta é uma coisa muito difícil. Isso me
foi dito por um RH da VARIG há muitos anos atrás
sob o argumento de que “um aeronauta pertence ao mundo”
e que por isso é um choque ele ter quer parar de repente
e limitar seu espaço. E a VARIG fez um grande planejamento
para aposentadoria de funcionários por muitos anos.
Com isso a VARIG conseguiu motivar seus pilotos mais idosos,
conseguiu empregá-los em outras companhias, conseguiu
recontratá-los, entre outros benefícios.
As organizações têm que ser mais transparentes
em todas os momentos e em todas as alternativas de desligamento,
não apenas em caso de aposentadoria. Fazer uma boa
entrevista de desligamento é fundamental. Digam para
o funcionário desligado por qual motivo ele está
saindo, mas principalmente ouçam dele todas as suas
impressões sobre a empresa e o ambiente de trabalho.
Até para que possam direcioná-lo ao próximo
passo. Porque o feedback deste funcionário ajuda a
empresa a evoluir em suas relações de trabalho.
Os gerentes de uma empresa não querem ou estão
incapacitados de visualizar muitos pontos desse feedback.
Se tudo for feito com esse cuidado o trauma da demissão
será muito amenizado. Mas infelizmente poucas organizações
encaram a demissão com a mesma importância e
o mesmo tratamento da contratação.
Uma empresa que demite mal um funcionário arranha
a sua imagem e a sua credibilidade institucional. Em um mercado
com acirrada competitividade tal atitude pode ser fatal. Vou
citar um caso, poucas pessoas vão lembrar mas, há
alguns anos atrás a Terra Encantada foi fechada aqui
no Cittá América (Barra da Tijuca – Rio
de Janeiro – RJ) e era uma das empresas pertencentes
às Organizações Globo. A Globo nos pediu
auxílio no processo de desligamento desses funcionários.
Nós entrevistamos todas as pessoas que estavam saindo,
ministramos a elas palestras de conscientização
e conseguimos realocar 35% dessas pessoas no mercado de trabalho;
índice considerado altíssimo por qualquer organização
de trabalho. Isso para uma mão-de-obra que não
era suficientemente qualificada. As Organizações
Globo continuaram fazendo esforço, estendendo alguns
benefícios a essas pessoas. Hoje, um fato que muito
me satisfaz é que esse desligamento desses funcionários
não repercutiu em lugar nenhum da mídia. E se
isso aconteceu é porque não houve nenhum arranhão.
Agora, se por outro lado uma organização corta
da noite para o dia 90, 100, 200 empregados sem nenhuma explicação
plausível, é fato certo que sua credibilidade
sairá muito arranhada. Porque os profissionais se conhecem
facilmente no mercado e passam rapidamente a informação
de uma empresa que demite sem humanidade. Isso gera problemas
nas contratações seguintes, pois o novo funcionário
ouviu as agruras de um antigo e vai para a empresa trabalhar
com medo. Resultado: sua produtividade e seu potencial não
serão aproveitados. Mais do que isso: o clima organizacional
será desastroso.
Por causa do fantasma da demissão há muitas
empresas com péssima fama de empregabilidade no mercado.
Tão péssima que se os funcionários puderem
fugir dela o fazem rapidamente. Se os gestores só pensam
em resultado transformam toda demissão em um caos.
Nós do Grupo LET já realizamos um trabalho positivo
de transformação de gestores para que estes
literalmente aprendessem a “demitir com humanidade”.
E esses gestores nos agradeceram demais, até porque
entenderam que amanhã ou depois podem ser eles a ter
que sair da organização.
Mas há exceções. Se a demissão
for por justa causa, desvio de conduta, comportamento anti-ético
e outros males, o tratamento deve ser de choque mesmo.
E há também detalhes na demissão que
muitas empresas não consideram, mas que são
importantíssimos. Por exemplo: o exame médico
demissional. Se você vai demitir uma pessoa que tem
um determinado problema médico que a impede de realizar
aquela função, é mandatório que
analise direito se essa mesma pessoa não pode ser realocada
para outra função dentro da empresa.
Outro método extremamente negativo de demissão
é o da empresa que coloca o funcionário em férias
e o demite logo após a sua volta. Isso é uma
crueldade com a pessoa e com a empresa, pois contamina, espalha
o terror por toda a organização! A partir daí
todo funcionário que vai sair de férias fica
tenso. Se a empresa continua com essa prática em médio
prazo ela vai pagar caro.
Pode parecer paradoxal isso, mas demissão – nos
casos em que se está diante de alguém competente
- também é um processo de saber reter talentos,
pois a pessoa demitida pode retornar à empresa em um
momento melhor se tiver sido bem tratada. É a valorização
do “capital intelectual” que só pode mostrar
a sua cara se for tratado com humanidade.
Gosto de citar exemplos nossos, do Grupo LET. Fizemos há
três anos um trabalho de capacitação profissional
junto a uma rede de supermercados. Esta rede contratava funcionários
para períodos de 90 dias. E após 90 dias classificava
os funcionários com graduações de A a
C. Os que tinham A estavam muito bem e os que tinham C estavam
com a “cabeça a prêmio”, perto da
demissão. Convencemos essa rede que nos deixasse a
trabalhar os funcionários B e C para melhorá-los.
Fizemos com eles cursos e palestras. Ao final do período
de capacitação conseguimos reaproveitar metade
do pessoal que tinha a graduação C. Tudo isso
porque, além da expertise do Grupo LET, o brasileiro
tem uma capacidade enorme em dar a volta por cima, em inovar.
Faz parte da nossa raiz cultural.
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